3 de jan. de 2011

SOLITARIO BLUES BAR


...Turco, um dos Curaçalenhos mais perigosos da cidade chega feito um louco no Bar Cabo-verde, entra desvairado, pergunta por Mulato. No seu papiamento que os Cabo-verdianos percebem perfeitamente, por ser a língua mais parecida com o crioulo, algo que tem que ver, com os escravos levados da Cidade Velha para as Antilhas holandesas. Com uma pistola, bem visível na cinta, alguns dos habituais mobílias do bar recuam com medo que Turco veio matar Mulato, mas Turco percebendo da covardia dos gajos, relaxa os cagarolas quando remata estas palavras: Onde sta Mulato, um misti miralo! .. Um gaio Suriname mata nôs amigo Benjo!.. Um bem busca Multato, pa bai mata, kel conho Mama… no ta mata kel katchoro Suriname!!!
- Carlos o fiel amigo de Mulato, que sempre está no mesmo canto do bar todos os dias, a jogar biliar, dirige-se ao curaçalenho, sussurra-lhe no ouvido o endereço de Mulato e Marisol, que só os de confiança conhecem. Mulato sabe, que na sua profissão de chulo e traficante de drogas, os inimigos e invejosos estão sempre a espera de uma oportunidade para limpar-lhe o sebo, ficar com a sua puta, e os seus negócios…
Agradecendo a Carlos, Turco estende a mão, passa a Carlos um papelinho que deve conter coca, agradece o rapaz com um gesto estranho, sai da espelunca furioso.

Num velho Ford Turco entra no imenso Mass Túnel, vai pensando na vendeta. Por momentos lembra que em cima do túnel estão barcos navegando. Conho se Mama!!!... Aqueles brancos Macambas, eram um filhos da putas doidos mas grandes engenheiros… sacudindo a cabeça, depois de cheirar um pó que tem num vidrinho que leva pendurado no pescoço, manda a merda aos brancos e as suas loucuras, conduz com toda velocidade na direcção de Zaut Plein onde mora Mulato.
Num prédio social cheio de estrangeiros, na maioria trabalhadores das docas, Turco nervoso procura com impaciência durante largos minutos o nome de Mulato, finalmente encontra a sineta, toca, e, depois de alguns segundos, a voz de Mulato no intercomunicador pergunta firme: Quem é??? – Ei Mulato! Mi ê Turco! … Aquele Suriname, Robert Davis, matou Benjo com dois tiros a traição… Conho se Mama!... Vim buscar-te, vamos matar o filho da puta! – Calma! Calma Turco! Que estás por aí a a dizer? … Que mataram o meu compadre Benjo? Sim Mulato, kel gaio mata Benjo! – Aguarda cinco minutos… estás no teu Ford? Sim!- Já desço!… Vamos procurar o cabrão e manda-lo aos anjinhos.

Marisol que está no quarto de dormir, ouve a conversa, desata a chorar aos berros, o seu amigo e compadre Benjo. Mulato tenta acalmar-lhe, mas ela entra em histerismo, mulato não aguenta de tanto ódio que reina nele, dá a Marisol um tremendo tabefe, ela assustada para de gritar e fica soluçando feito uma baleia a vir a superfície dum mar de lágrimas.
Mulato apanha o magnum 45 a Darty Hary, mete balas no tambor da pesada arma que até um elefante mata, veste a sua gabardine que pare ser feita com penas de corvos,, mete a arma num coldre debaixo das axilas, baixa cinco andares pelas escadas de emergência. Nunca usa o elevador. Elevador, segundo a sua teoria paranóica, é perigoso; descendo ou subindo, nunca se sabe quem está ali a espera… A porta abre, e, Bum Bum!!!!... Um gajo apanha com umas quantas ameixas nos cornos, vai logo para a cidade de pés juntos.
Sai do prédio com o coração a bater forte, apalpa o pistolão, olha com cautela para todos os lados, vê o Ford de Turco, que lhe faz sinal…

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