11 de abr. de 2010

LETRAS SOLTAS


-: … Logo que for absolvido irei a Benares banhar-me no Ganges… é o meu sonho!… Hei de me purificar de todos estes demónios que rodeiam a minha vida. Juro!!!!!!... Ali hei de morrer longe das ilusões materiais deste mundo…
Demónios! Os dias vão passando e não sei quando é que estes gajos irão libertar-me!... O doutor Aberli faz-me pensar que está tratando da minha libertação mas começo a acreditar que são palavras vãs. Na primeira oportunidade vou-me bazar daqui! Já tenho o plano bem estudado… Aquele guarda negligente que deixa a porta da minha célula aberta é a minha esperança de fugir daqui. Sinto-me exausto nervoso sei que vou ter mais uma crise. Estou com medo… Vou gritar!... …

- Coitado do Roberto!... Que tormento!... Baixando a folha a4 que poiso na mesa sinto o ruído de gotas de água dos meus olhos que tombam no papel. Saco um lenço para enxugar os olhos abro a porta cabisbaixo saio do meu atelier para tomar freso na pequena praça a dois metros da minha casa. Não aguento mais!... Hoje não continuarei a tormentosa leitura. Talvez amanhã. Apetece-me é ir a Lajinha tomar banho no mar. Descontrair a caveira esta forma estranha de dizer aqui no Mindelo ir relaxar metáfora muito usada aqui na ilha…
Fico durante vinte talvez trinta minutos na silenciosa praça observando as nuvens que constantemente passam na abobada celeste…. De forma hipnótica levanto-me vou para casa vestir uns calções de banho. Entro no meu carro dou chave na ignição do Renault 4L que nunca falha arrancando a máquina vou conduzindo lentamente pelas ruas de Mindelo em direcção ao mar completamente perdido em pensamentos. Felizmente a praia está deserta o mar é de um ultramarino profundo e o céu cheio de pinceladas de azul celeste turquesa e alaranjado ajudam-me a aceitar a vida como ela é. As vezes triste as vezes alegre...
Penso que amanhã vou retomar de novo a leitura dos escritos de Roberto Hauser Soares mas vou ter que controlar as emoções.

Nadei durante meia hora sem parar agora estou tomando banho de sol que agradavelmente queima a minha pele que fica rapidamente escura... De repente noto que a praia já está repleta de pessoas barulhentas levanto e vou para o pequeno quiosque da Guida beber uma cerveja. Vejo belas mulheres passando... porra!... Tenho a minha frente uma gaja que quer engatar-me?… É uma destas putas finas que andam engatando turistas abastados. Mas comigo se lixou!… Não sou nenhum turista e tampouco parvo!... - Guida!... Dá-me a conta! Vou para a casa!…

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