6 de dez. de 2010

SOLITARIO BLUES BAR


Com a vida a correr-lhe bem, Mulato usa um corrente de oro no pescoço que pode ancorar o paquete Queen Elisabeth. Tem anéis de ouro e pedras brilhantes em todos os dez dedos das mãos, usa botas italianas genuínas, veste roupas coloridas que nem um papagaio das amazonas e, na perfeita cabeça, um chapéu Borsalino, a copiar o actor Jean Paul Belmondo. Quando estaciona o carro no passeio do Bar Cabo-verde, é um evento digno de peregrinos admirando o santo Papa da malandragem… Como moscas circulando um cagalhão de merda, todos os labregos, estes cata migalhas do dia a dia, a quem ele sente uma certo repugno, colam nele. Sabe perfeitamente que são uns invejosos filhos da puta. Caras de cu ciumentos, que olham admirados o novo carro que ele comprou por uma pipa de grana, dinheiro a vista; uma daquelas americanas que bebem mais gasolina do que um camelo das arábias…
Malandro que é, finge não perceber a invídia daqueles bostas que gostariam de ter o seu talento, a sua lábia, e a sua pinta de endinheirado cafetão…

Que se fodam!...

Ele sim, tem dinheiro aos pontapés, que a sua maquina de fornicar tarados cheios de merda na cabeça, todos os dias entregam a sua Marisol, bela grana que ela lhe fornece feito um verdadeiro banco Suíço de grandes lucros, fodendo pobres imbecis…
Dinheiro aos baldes!… e, caramba!... Os seus jogos de matraquilhos, que hoje em dia, só joga combinado via telefone com os adversários, e só aceita apostas altíssimas. E, Of Course!... O seu predilecto jogo de Poker com dados, onde Mulato, o chulo Cabo-verdiano mais temido do País das águas, tem mais sorte do que belzebu o demónio…

Carregado de maços de dinheiro que mete nas duas cuecas que veste, por ter um pénis enorme que não cabe numa só cueca, Mulato nunca usa troco. Dizem que tem milongo, que esteve donde um feiticeiro, que lhe protege com amuletos e outras coisas misteriosas e… Os mais supersticiosos dizem, que é por isso, que ele nunca compra com trocado. Todas as moedas de troco que recebe nos lugares onde frequenta, ele dá generosas gorjetas aos empregados, ou atira as modas para o chão do enorme carro feito um caos, repleto de moedas por todos os lados, também preservativos, navalhas e, a tal 45 a Derty Hary, sempre debaixo do assento do volante, para qualquer eventualidade…

Ao entrar no Bar Cabo-verde, como sempre, há uma disputa entre os jovens delinquentes de meia tigela... Todos querem limpar o seu carro; mas num canto, há sempre um tipo silencioso, que parece estar lá uma eternidade e nuca pia. Em quanto os outros, numa algazarra frustrante tentam, inevitavelmente, é ao rapaz silencioso a quem Mulato entrega as chaves, para dar brilho ao seu carro. Chama-se Carlos, um magricelas, um rapaz com uma enorme cabeleira afro. Na sua cara redonda, evidencia-se a mistura do afro-asiático, tem um belo rosto, aparentemente calmo, mas é pura ilusão. Todo,s têm medo dele. O gajo é um assassino de sangue frio, uma cascavel, o menino de mandados de Mulato, o seu fetiche, que ele gosta de levar aos sítios mais dúbios para jogar… Mulato, como todos os jogadores compulsivos, é supersticioso, acredita que o rapaz lhe dá sorte, e também sabe, que pode confiar nele, como guarda espaldas caso houver bronca. Mulato sabe, que Carlos não hesita…
Agarrando as chaves que Mulato lhe entrega sorrindo, Carlos sai do Bar gingando que nem marinheiro, vai limpar o carro. Sabe que todas as moedas que encontrar na viatura, serão dele e, porreta!... Não é pouco o dinheiro que irá encontrar, dinheiro que vai sustentar durante muitos e muitos dias, seu vicio da cocaina e das mulheres que adora…


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