17 de out. de 2010

SOLITARIO BLUES II


A música de Mils Davis torna-se cada vez mais nítida a medida que ele se aproxima do bar. Pontapeia uma lata de Coca-Cola que cai na sarjeta manda um palavrão olha rapidamente para a esquerda depois para direita em forma de reflexos condicionados paranóia que adquiriu depois que expirou o seu visto de permanência no país. Qualquer ruído de carro ou sirene é um suplicio… automaticamente faz a mesma pergunta para os seus botões: Que faço nesta terra fria longe do mar azul das ilhas e das mulatas que para mim são a mitológica rainha de Sabá em beleza meu primeiro amor minha primeira paixão inolvidável de um filme que assisti tinha quinze anos e, eu esticando a frente dos ratos da policia colonial e do porteiro malvado para entrar naquele filme para maior de 17 anos sacana de porteiro tão feio que o povo maldosamente dizia que Deus tinha-lhe dado a permissão de ser feio ele tinha abusado em feiura. Ainda por cima o cagaço pois tinha falsificado o bilhete de ingresso no cinema. Tinha passado horas em casa numa paciência estóica com papel e tintas desenhando e cortando falsificando o zorro…
Da fé que o Trane,s Blues de Mils Davis termina arranca de seguida no bar um novo som reconhece a guitarra Lucyl de BB King tocando The Tryl is Gone. Lembra que tem a garrafa de vodka no bolso da velha gabardine retira o vidro desenrosca a tampa manda uns quantos golos pela goela a baixo o álcool monta na cuca sente vontade de entrar no bar. Revistando os bolsos encontra ainda algumas notas de euros que lhe dá para umas quantas cervejas e claro que conhece o esquema. O bar está certamente pleno de velhos e velhas fuscos basta entrar e tocar o sino em sinal de pagar uma rodada. Pagará a primeira depois a coisa dispara. Fuscos o pessoal torna-se generosos. Começam sempre por pergunta-lo as suas origens depois parecem uns autênticos sacristãs. Um tocar de sino que nuca mais acaba vai sair da li completamente bêbado a custa daqueles parolos.

Abrindo a porta do bar um mar de fumo e de musica bate nele frontalmente. Afastando umas cortinas pesadas feito dois dragões chineses com olhos quadrados de míope ele entra. O alarido naquela língua nórdica misturada com o blues de BB King parece uma torrente de flatulência misturado com o aroma de café torrado numa frigideira esquentado com areia da Belavista. Automaticamente tira o maço de camelo que já atravessou com ele todos os desertos do seu pulmão e da sua penúria… Metendo um gafanhoto nos lábios grossos risca um fósforo na dura barba feito um actor de um spaguetti Western acende o cigarro controla o perímetro vai até o sino pega na corda que parece a uma cobra embalsamada e tem um nó na ponta igual as cabeças que os índios Gívaros caçadores de cabeças com perícia tiram todos os ossos ficando as cabeças minúsculas e com as bocas cosidas… Antes de dar a pancada no sino num flash lembra que se estes bravos índios passassem pelas ilhas fariam um grande trabalho cosendo a boca de muitos políticos desavergonhados… Blim!!!!! Blamm!!!!! Blim!!!! Blammm!!!! … Silencio total no bar. Estupefacto olham para o africano que ousou tocar o sino em sinal de pagar uma a todos os presentes no Solitário Blues Bar… Com os seus impecáveis dentes brancos ele sorri por dentro e por fora e sabe muito bem que durante toda a noite vai beber de graça e, porque não terminar na cama de uma das quarentonas em vez de ir a pensão onde mora repleto de patrícios dormindo em tarimbas e um cheiro de chulé insuportável… Bolas!... se teve coragem de dormir com a paquiderme da rameira qualquer das quarentonas é uma Naoemi Campbel e, com estômago de marinheiro que tem aguenta todos os balanços do mundo sem vomitar.O barman com umas lunetas que parecem pára-brisas de um Cadillac do gangster James Gagny pergunta-lhe se é mesmo a sério a coisa… se não terá que expulsa-lo do bar ou chamar a polícia. Ofendido pergunta-lhe se negro não é bem-vindo na sua espelunca o homem mais branco do que cal do Maio e com cara do filho de Frankenstein desce das escadas da sua ignorância começa a perguntar as pessoas o que desejam beber. Quebrando o silêncio começam a pedir as suas bebidas. Da sua experiencia sabe que aquele pessoal só bebe cerveja e genebra bebidas baratas o resto da noite ele vai encher a cara no Solitário Blues Bar a custa dos queijos…

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