20 de abr. de 2010

LETRAS SOLTAS


Relaxado com o idílico ambiente do Monte Verde acabado de comer a sandes deito na erva rasteira durmo sonhando com uma das minhas musas há muito perdida na brisa do tempo em Basileia… No sono o tempo real não existe… durmo profundamente a buzina de um automóvel desperta-me…. É o amigo Joãozinho que acaba de chegar. Enxergo o mostrador do Swatch são cinco e meia em ponto começo a sentir uma certa humidade entranhando nos ossos levanto-me e vou para o carro que não para o motor. – Boas horas Joãozinho!... Pontual como sempre! – Hora é hora senhor António hora de crioulo é desculpa de gente irresponsável! - Certo meu caro certo!
– Dentro do carro o calor é agradável estico as pernas para espreguiçar olho as ilhas lá longe que vão apagando na noite o táxi avança desligo-me da paisagem começo a pensar: Vou ter que terminar a leitura dos escritos e ver até que ponto a fantasia do meu companheiro viajou e… dentro de duas semanas hei de marcar passagem para a Suíça… Está decidido!!!!! Eu vou buscar o meu amigo!!!!!

Entro em casa deparo com Virgínia na sala de jantar ela está sentada numa destas cadeiras ortopédicas e, na grande mesa de mogno um montão de livros e papéis são exercícios dos seus alunos de Francês. Nosso filho ao lado dela silenciosamente está lendo Asterix e, os cães no quintal com o seu admirável olfacto notam a minha presença começam a latir de contentamento. Vou abrir a porta do quintal eles entram na sala aos saltos e fazem-me festas abanando as suas caudas em espiral de forma frenética… Com o tempo os seus latidos tornam-se maçadores envio-os de novo para o seu habitat como seres obedientes que são vão para o quintal mexendo as suas caudas e ganindo.... De seguida...
Puxo duma cadeira sento-me ao lado da minha mulata pergunto: – Tens um momento? Quero falar contigo… e… é… sobre Roberto que afinal está numa clínica psiquiatra em Basileia e não na Índia como eu pensava. Recebi hoje uma carta de um psiquiatra de Basileia esclarecendo a misteriosa história do embrulho e a carta! – Levantando a cabeça dos livros Virgínia arregala os seus olhos negros estupefacta exclama: - O quê!... Queres dizer que a historia da Índia é uma invenção?... Mas diabos! Como é que foi lá parar o embrulho e a carta? – É uma longa história Virgínia… mas vou tentar em breves palavras esclarecer-te esta bizarra historia!...
- Nosso filho que não está para conversas de adultos pede licença de seguida vai para a rua brincar com uns garotos que tive de dar uns quantos berros por estarem a bater com a merda de uma bola na minha porta – Vão para praça jogar!... Aqui não dá!..
– A televisão está aberta levanto para fecha-la… Porra! a Mezzo está transmitindo Jhon Coltrane Live in Newe Port... que pena! … Não é o momento!... - Regressando para junto da minha mulher continuo a prosa… - Um tal de doutor Schneider da clínica psiquiatra da universidade de Basileia escreveu-me e encontrei a carta hoje no correio! … Tenho a carta aqui no bolso … Queres?... Terei que traduzi-lo mais ou menos em simultâneo pois estar escrito em alemão! – Lê António!... Estou curiosa!... Queres uma cerveja?... – Quero duas! - Vou busca-las! … Começa a leitura sou todo ouvidos!

Ao terminar de ler a carta… Caralho! é chato traduzir em simultâneo! … Virgínia fica toda emocionada e começa a lamentar: Coitado do Roberto!... Que sina! – Pois é Virgínia vou ter que ir a Basileia ver se consigo trazer o gajo comigo para Cabo-Verde. Ele merece sair daquela horrível clínica e, quiçá encontre aqui na terra a paz merecida. Abanando a cabeça positivamente em sinal de abençoar a minha prosa Virgínia me fica olhando silenciosamente em quanto embrulho a carta que enfio no bolso.
Levantando da cadeira bruscamente digo a Virgínia que vou para o meu atelier quero continuar a leitura das restantes páginas do louco calhamaço…




















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