5 de fev. de 2010

LETRAS SOLTAS


…Meu nome é Roberto Hauser Soares nasci na cidade de Basileia na Suíça nos anos cinquenta. Sou filho de Marta Hauser e de Francisco Soares da ilha de S. Antão uma das ilhas do arquipélago de Cabo verde. Logicamente que sou mulato pelo lado do meu pai mas sou a mistura de dois continentes… segundo os paleontólogos, África é o berço de todos os homens. Mas, por ignorância e preconceitos existem ainda muitos que rejeitam este facto. Como homem de pele escura, na minha infância em Basileia tive sérias contrariedades que logrei superar graças a ajuda dos meus pais e dos poucos amigos que tive. Como disse anteriormente nasci na cidade Helvética de Basileia onde fui durante muitos anos a única criança mulata na cidade. Este facto complicou muito a minha existência. Ser aparentemente desigual aos outros pode ser terrivelmente angustiante e… eis uma cena caricata da minha vida... Quando tinha doze anos minha mãe me contou esta insólita historia que até hoje guardo na minha fraca memória – Um belo dia quando ainda cagava nas fraldas mamã subindo pela Spalenberg rua bastante íngreme no centro da cidade empurrando o carrinho onde eu ia sentado lhe aborda uma senhora toda pavoa que lhe atira estas estúpidas palavras – “Ai minha senhora!.. Que negrinho tão bonito! … Onde o encontrou? – Furiosa por ter que empurrar o pesado carrinho e carregar sacos com compras na íngreme subida… mamã que nunca teve papas na língua respinga com raiva para a mulher desta forma: – “Olhe madame!... Vá foder com um negro e terá também um pretinho bonito!!!!!!!...

- Estou escrevendo este diário dês de um cárcere em Calcutá. Sou acusado de ter assassinado uma mulher que juro por Deus, não ter morto. O fado ou a merda da vida carregou-me para a miséria deste calabouço neste país onde vim em busca de espiritualidade que na Europa e em Cabo-verde não consegui encontrar... Meu cruel destino de encarcerado! … Ó vida de pária!!!! … Os homens presumem na maior parte das vezes que a nossa felicidade mora longe do nosso nariz?… Temos a mania de procura-la nos sítios mais absurdos… Que grande mentira esta busca desenfreada da felicidade algures quando tudo o que está por resolver está dentro de nós!... Posso garantir-vos que atravessei o inferno a pé... em vão encontrei a felicidade desejada nos países dos meus pais… Por ironia da vida vim parar a Índia em busca da salvação e sou condenado de um crime que não cometi… Desculpam-me ah!!!!!!... Vou ter que parar a escrita... começa a faltar-me memoria… malditas ratazanas que passeiam sem parar neste horrível buraco! … Também uns gritos dementes que chegam não sei de onde mas ironicamente me fazem sentir vivo neste negro isolamento... O cheiro a fezes já não me incomoda mas há um terrível vazio que me mete medo!... Oh Deus! Porque?... Porque é que os carcereiros que me amarrar quando entro em convulsões… estão sempre trajados de branco e nunca logro ver os seus rostos?... Será que enlouqueci?... Vou tentar fechar os olhos regressar até onde a minha lembrança chegar… Quiçá possa continuar aa es….cri…ta aaaaaaaaasssss…
- Intrigado com o conteúdo das primeiras paginas que escreveu Roberto bebo mais um golo de vinho e de seguida continuo a bizarra leitura que continua - ...
- Sinto-me melhor hoje vou continuar o meu diário: - Quando tinha catorze anos meus pais divorciaram. Lutando contra as adversidades daquele país rico e frio que é a Suíça frio em termos geográficos e humanos onde a maioria das pessoas nunca lograram a ter uma vida feliz… Bem!... Sempre!... Já dizia o poeta brasileiro Vinicius de Morais: “ O AMOR, É ETERNO, EM QUANTO DURA” –… Foi forte o amor e a amizade que uniu os meus pais mas, por opção, meu pai partiu para as ilhas fugindo da Europa fria e cinzenta. Regressou assim definitivamente para os trópicos e, estou a crer, que existe em todos os ilhéus talvez em todos os homens o instinto de regressar-mos onde o nosso umbigo foi enterrado… De regresso as ilhas Papai foi para S. Antão...

2 comentários:

Wanasema disse...

Olá, Tchalé! Quanto tempo, amigo?
Interessante conto este, hein? Gosto dessas passagens na Basileia... ´
e aí, como vai a vida?
um grande abraço,
ricardo riso

Tchale Figueira disse...

Oi Ricardo! por aqui a gente vai lutando entre palomas e culebras...

Este conto é parte de um futuro livro sobre a história da identidade... quando as pessoas estão divididas por duas diferentes culturas que levam em eles...

Um grande abraço.