22 de abr. de 2010

LETRAS SOLTAS


O Encontro

Num templo cilíndrico de pedras negras debaixo de um altar rasgado por ervas um guerreiro adornado com escudo e espada jaz num chão de terra coberto de fungos e odores obscuros. Descendo da minha montada ajoelho a seu lado constato que ele está gravemente ferido no peito e, o seu respirar ofegante carrega-me de regresso a evolução dos Homens…
Viajo até as grandes savanas Africanas
durmo nas cavernas da Etiópia e da Tanzânia lembro-me do meu milenário medo
nocturno das feras… (sou animal sem visão nocturna) lembro-me de Lucy primata que desceu das árvores para pisar a savana e mais tarde na evolução do homem… Homem Habílis inventor de machados e lanças primordiais ferramentas…

Tremendo de frio, (talvez de medo) vejo no rosto pálido do guerreiro a morte; meu corpo estremece contemplo a sua espada ensanguentada pergunto: Quem foi entre os homens o primeiro assassino?...
Destapando o meu velho cantil coloco água fresca nos seus lábios esverdeados ( a cor
que a morte tinge os homens) seus beiços rígidos rejeitam o precioso de todos os líquidos que lentamente rola da sua boca e entranha no húmus da terra…

Sei que é o fim do guerreiro num silêncio fúnebre choro…

Inesperadamente escuto o grande rio que corre lá fora entre
calhaus e musgos pré históricos e a grande água com o seu canto vital acorda-me
do meu torpor a canção afasta-me das dores do Mundo…

Levanto a cabeça olho para o tecto sem cobertura
do misterioso templo de pedras negras contemplando o firmamento lar das estrelas que flutuam na infinita imensidão celestial por alguns momentos especulo sobre possibilidades possíveis e impossíveis…

Num impulso começo a trabalhar…

Sem ferramentas para cavar uma sepultura digna ao homem que jaz a meu lado com esforço
cubro o morto com umas pesadas lajes de basalto numa espécie de pirâmide informe.

Numa fresta do sepulcro enfio a sua espada onde penduro o seu enorme escudo com desenhos estranhos símbolos para mim indecifráveis.

Comovido adivinho de novo algumas lágrimas que rojam da minha face num gesto brusco agarro as rédeas do meu cavalo… Salto energicamente para a garupa pico as esporas na barriga do corcel desato a galope na imensa planície. Um vento frio cortante fustiga a minha cara cavalgo e, após muito cavalgar alcanço uma colina com enormes ciprestes… Um cheiro a ervas desconhecidas embriaga o meu cérebro… Paro o corcel e… Durante alguns segundos olho pela última vez o templo lá longe…

Penso:

Aquele homem enterrado lá em baixo é meu irmão! … No escasso tempo em que estivemos juntos revi a história dos homens milhões de anos num flash passou …









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