... Abrindo a ruidosa porta da minha casa que há muito tempo faz falta por óleo nas dobradiças entro assobiando Konigin der Nacht da Flauta magica de Mozart e deparo com o meu filho de nove anos na sala lendo um livro – Que está lendo meu filho? – Moby Dick – responde com um ar tristonho – Gostas?” – “Gosto sim… mas o comandante Abache é um malvado que quer matar a baleia!” – Agachando beijo-lhe na testa com ternura e digo-lhe que a baleia um dia irá se vingar do malvado. Levantando com dificuldade digo até já ao meu filho e retiro-me para o meu amado atelier meu templo sagrado onde numa longa mesa de mogno polido começo a abrir o volume com um canivete suíço este belo artefacto para todas as ocasiões… Com o coração a bater rapidamente corto a guita que amarra o volume sujo amarrado em cruz rasgo com cuidado o maltratado papel e… é a grande surpresa! Um calhamaço de papéis que segundo os meus cálculos terá umas 100 páginas?...
– Virgínia minha mulher que quando entrei escutei na casa de banho preparando o seu make-up que dura uma eternidade vem ao meu atelier avisar-me que está de saída para as compras não lhe dou troco tamanha é a minha ansiedade. Sem dizer palavra ela fecha a porta e sai. Estou nas tintas ao que concerne as compras… o que me interessa neste momento está aqui a minha frente e morro de curiosidade… Mas!... Primeiro vou ter que ir a cozinha abrir uma garrafa de vinho tinto Quinta dos Carvalhais da casta Turiga Nacional oferta do meu amigo João Aveiro director do Centro Cultural Português na cidade da Praia. Nestes momentos de excitação e curiosidade é certo que um bom vinho dá tranquilidade ao nosso espírito…
- Puxando a rolha com cautela para não truncar a sólida cortiça regresso ao estúdio com a garrafa e um largo copo de cristal que solenemente poiso lado a lado do manuscrito e, levantando com cuidado os papéis começo a desfolha-los. Reconheço de novo a letra firme e doentiamente perfeita de Roberto e estranhamente noto que as folhas estão escritas com canetas e lápis de múltiplas cores o que me deixa mais intrigado. Injectando lógica nos meus neurónios chego a conclusão que ele esteve constantemente a viajar pela majestosa Índia certamente teve que usar segundo as circunstâncias os meios que lhe foram disponíveis para escrever… Mas que raio de coisa estranha!... Porque é que as folhas são todas A4? Aqui há gato! Há algo aqui que não bate certo!... Raios!... Vou servir o vinho! …A coisa está ficando cada vez mais esquisita necessito de um bom trago para aguentar a pedalada.
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O néctar só pelo odor é uma poção dos Deuses – Viva Baco viva Dionísio viva João Aveiro!... Bulindo com delicadeza o copo com o precioso elixir dos deuses aproximo-o das minhas narinas inalo lentamente o liquido vermelho um cheiro a jardim de Éden masca de repente o meu miolo… os meus sentidos afinam e é como se uma sinfonia do Vasco Martins percorresse os labirintos do meu cérebro. Poisando o copo delicadamente nos lábios encho a boca do maravilhoso néctar bochecho sem fazer ruído e me vem em mente um poema do livro “Para Nunca Mais Falarmos de Amor” de Mário Lúcio… de seguida engulo a oitava maravilha do mundo… Sem dar fé começo a falar alto que nem um alienado: “Soberbo vinho! … A ti meu caro amigo das Índias a tua saúde onde quer que estejas!... Com a boca estalando poiso o delicado copo fino que nem uma borboleta na mesa e, agarrando a primeira folha com ânimo começo a ler...
– Virgínia minha mulher que quando entrei escutei na casa de banho preparando o seu make-up que dura uma eternidade vem ao meu atelier avisar-me que está de saída para as compras não lhe dou troco tamanha é a minha ansiedade. Sem dizer palavra ela fecha a porta e sai. Estou nas tintas ao que concerne as compras… o que me interessa neste momento está aqui a minha frente e morro de curiosidade… Mas!... Primeiro vou ter que ir a cozinha abrir uma garrafa de vinho tinto Quinta dos Carvalhais da casta Turiga Nacional oferta do meu amigo João Aveiro director do Centro Cultural Português na cidade da Praia. Nestes momentos de excitação e curiosidade é certo que um bom vinho dá tranquilidade ao nosso espírito…
- Puxando a rolha com cautela para não truncar a sólida cortiça regresso ao estúdio com a garrafa e um largo copo de cristal que solenemente poiso lado a lado do manuscrito e, levantando com cuidado os papéis começo a desfolha-los. Reconheço de novo a letra firme e doentiamente perfeita de Roberto e estranhamente noto que as folhas estão escritas com canetas e lápis de múltiplas cores o que me deixa mais intrigado. Injectando lógica nos meus neurónios chego a conclusão que ele esteve constantemente a viajar pela majestosa Índia certamente teve que usar segundo as circunstâncias os meios que lhe foram disponíveis para escrever… Mas que raio de coisa estranha!... Porque é que as folhas são todas A4? Aqui há gato! Há algo aqui que não bate certo!... Raios!... Vou servir o vinho! …A coisa está ficando cada vez mais esquisita necessito de um bom trago para aguentar a pedalada.
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O néctar só pelo odor é uma poção dos Deuses – Viva Baco viva Dionísio viva João Aveiro!... Bulindo com delicadeza o copo com o precioso elixir dos deuses aproximo-o das minhas narinas inalo lentamente o liquido vermelho um cheiro a jardim de Éden masca de repente o meu miolo… os meus sentidos afinam e é como se uma sinfonia do Vasco Martins percorresse os labirintos do meu cérebro. Poisando o copo delicadamente nos lábios encho a boca do maravilhoso néctar bochecho sem fazer ruído e me vem em mente um poema do livro “Para Nunca Mais Falarmos de Amor” de Mário Lúcio… de seguida engulo a oitava maravilha do mundo… Sem dar fé começo a falar alto que nem um alienado: “Soberbo vinho! … A ti meu caro amigo das Índias a tua saúde onde quer que estejas!... Com a boca estalando poiso o delicado copo fino que nem uma borboleta na mesa e, agarrando a primeira folha com ânimo começo a ler...
Foto de Abraão Vicente
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