Lá longe, de aquilo que eu e o
Mundo sabe é o vazio. A especulação
Das estrelas, as palavras. Sempre as palavras,
A candeia e a bengala, o sustento do efémero,
Borboletas desfazendo em cinzas.
Sementeira nos campos. Algumas perdidas
Pela secura da alma, outras iluminadas pelo
Incêndio do peito, tal mulher casa da primavera.
Neste monte verde, uma grinalda de névoa entra
Pelas minhas narinas, penso nos meus mortos que
Frios jazem em catedrais olvidados e, no
Meu eu, a luz herdada dos seus candelabros
De cristalina sabedoria
Com meu cajado de plumas e um mar imenso
De pensamentos, a águia voa, meus pés descalços
Sentem a renda dos massa-pés, modelando trilhos
Na ilha
Lembro-me dos teus ombros que beijo e torno
A beijar cem vezes cem, ou equação infinita
Na tábua de ébano dos teus olhos. Borboletas,
Pássaros, flores, e meus dedos apontando uma
Lua coralina, que repousa entre os vales dos teus formosos
Seios.
O quarto, a mesa onde divido o pão e escrevo,
Invento palavras cortantes como a espada da
Morte, também o sabor a mel que corre nas linhas
Das minhas ideais. Colheitas armazenadas
Na electricidade do meu crânio iluminado, insectos
Coloridos com sangue, sobrevoando o lago das minhas
Incertezas.
A casa febril arde, papoilas vermelhas
Suspensas na seara, o invisível ar
Que respiro, a profundidade no oceano das palavras
Que sondo. Respirar de cavalo sem freio,
A tristeza, o amor e a morte, corrente marítima,
Veleiro navegando na borrasca,
Minha solidão sem beijos.
Romarias e suor, repicam-se tambores nas ilhas.
Santos por um dia pelas ruas caminham;
Dos seus sexos bátegas de chuva regando acácias
Com seus ramos feito navalhas
Apontadas para a lua.
O povo canta, a cortina da míngua
Num tocar de corpos desvanece no vermelho da terra,
E, ressuscitado por um segundo, Cristo com um panfleto
De luz, grita aos homens: Amais uns aos outros, irmãos.
Igrejas, mesquitas, sinagogas, templos iluminados,
Dogmas e mártires, artilheiros da fé, mentes
Flageladas pela cegueira do verbo
Meu corpo é meu templo, são
Beijos de libelinhas, pairando num regato de
Cantigas.
Violinos, liras, harpas, violoncelos na rua dos
Tímpanos repousam – os sentidos orquestram
A harmonia do dialogo, e, sentado na raiz milenária de um
Dragoeiro, oiço o cristal da música embalando
Meu peito grande. Cintilam-se estrelas de
Branco veludo, neste universo sem fim.
Violáceo poente, jardim em luz
Meus olhos quentes,
Leve varanda, minhas pálpebras, minhas
Pestanas, pintando oceanos, cor e luz,
Sombra e brilho…
Sem LUZ?!... Nem espaço nem tempo! …
Passa um moscardo, regresso a minha infância bem longe! …
Foram tantas, mas algumas, pelo caminho as perdi.
Fotografias armazenadas, no cadinho
Da lembrança…
Singapura!... Trinta dinheiros,
Três maços de Chesterfield, coito triste,
Órfão no mundo e, mais mar a fora,
A ilha dos meus sonhos,
Paraíso perdido que a vida deseja.
Rosa-dos-ventos, barco do corpo
Horizonte de tigres, homens – a – vista! …
Será este o meu porto seguro?...
Terei de te encontrar
Oh musa perdida!... Tu que comigo
Ao agro irás, escutar a fresca erva crescer…
Planície verde, ausência de espelhos, abominável
Objecto de vaidades múltiplas,
Imagem negra, pós Outono da vida…
Rugas no coração, homens na plástica,
Olhos rasgados orbitam sem brilho, e
A morte que nunca avisa, quando vem jantar…
Bandeiras, estandartes, suásticas, soldados,
Guerreiros, marchando, gritam aos tiranos:
Ave César!... morttituris ti salutem)…
Bestas teleguiadas colocando ovos no útero do Mundo,
Selvas ardendo, mães sem sorriso,
Águias apunhaladas no voo dos poetas!!!!! …
Mas os poetas, feito pássaros, que renascem das cinzas,
Inventam palavras, iluminam-se livros,
Estes templos sagrados
De divina sabedoria.
Mãos em chamas, aurora de fogo, nascem as palavras,
Longo dia, eterna noite… Ele, sussurrando, pergunta-lhe:
São verdes, os teus olhos, ou são azuis, como a fina
Linha do mar, que vem dar à costa dos meus sonhos?
Oh salamandra dourada, fogueira viva,
Estrada escarlate…. Minhas artérias são rios de sangue,
Palavras em meus lábios, cotovelos dobrados, rezo a beleza,
Fénix renasce, musica celestial, partitura divina,
Divino Beethoven… ( Freude Godes funkel
aus Ellisium) movimento de batuta solar, musica infinita…
E eis que escrevo este poema aos meus amigos vivos e mortos.
Mortos nas suas frias lápidas…
Carrego-os
No cadinho da vida! …
A vela cintila, uma brisa fugaz
Entra e sai pela janela das persianas verdes…
A cor dos teus olhos não é? …Ou! … Serão azuis?...
Negros?... castanhos?...
Amo-te com todas as cores
Mulher vindima, uva que
Etiliza meu veleiro de mastro firme. Sou capitão,
Marinheiro de velas solta nas vagas do teu pão
Que como e ofereço-te a comer… Leite, manga,
Nuvens, crianças, a lua, a imensidão do peito, ajoelhado
Beijo os teus lábios em flor…
Semente da terra, origem da vida, convexa prenhez,
Planta que nasce, festejamos a vida, com cavaquinhos
E violões, a navalha que corta o fio entre a mãe
E a cria, primavera em brilho, sorrisos marfim,
Catedrais de ébano, lábios vermelhos, belos os seus
Rostos, rendas de Holanda, mesas coloridas, iguarias
Crioulas, manjares e bailes, papilas gustativas,
Céu da tua boca, malagueta e melaço, cana-de-açúcar,
E o grogue, que embriaga nossas alegrias,
Também as nossas tristezas…
Pernas pintadas, pó de terreiros saracoteando,
Juventude firme, corpos de basalto, seus sexos cheirosos,
Coxas ritmadas em transe bailando,
Astros que queimam o circulo das saias, carcelas em fogo
Suspiros na noite,
Lua bem clara, cama de amantes,
Tamarindo gemendo, flores no quintal,
Coito efémero nada é eterno, transita o tempo,
La nave vá…
Ofídia fria, Inverno sem luz,
Os dias as noites, manto de espinhos,
Sem agua no poço o corpo morre,
Pálpebras exaustas, guerra dos homens,
O frio mármore, almas cortadas,
Sangue inocente, borram-se estradas, lábios sem rega,
Sede de viver…
Moedas que corrompem, de fel a sua seiva,
Vida quebrada, peçonha no cálice, vinho corrompido,
Falsas abençoas, traqueias que rasgam, afónica é a
Lira, velas e velórios, estrelas extintas,
Caule quebrado, dedos partidos, canetas ardendo
Escritas sangrando, suicídio e revólveres
Sonho e utopias, … a LUZ é vida, o dia renasce…
Montanha curva, ventre de
Mulher, parto feliz, vida brotando,
Rio correndo, voam-se os dias,
Nas veias o sangue, meu corpo nu,
Canções divinas, atiçam-se lareiras, meu cérebro
Descansa, contemplo o mar…
Desço a corrente num barco de seda,
Meus gestos, tuas mamas, teu cabelo azeviche,
Floresta de crinas, teus olhos que brilham,
Jardim dos sentidos, sinos que tocam,
Torre ardendo, meu falo duro, tua concha em flor
Teu desejo molhado, minha língua quente,
Navega tua púbis, jardim de jasmim, mariposas e pétalas,
Teu profundo suspiro, entoando musica….
Trompetes e tambores, violas de amor, polifonia
Alegre, montes castanhos, braços e dedos,
Palma das mãos, rezam-se terços, Cristo bailando,
Crianças no baile, pura inocência, coroa sem espinhos,
Ilhas vulcânicas, negro basalto, oh rosas do mar!…
Maria, Joana, Bia, Teresa, rebolam-se suas coxas num
Abrasado suor, frenesi musical, cursos de
Água, rostos de negros, índios e brancos, nascimento das
Ilhas, ancoradouros e portos, casa de marinheiros,
Desflora dores de virgens, o sal o azeite, a cruz e
Os santos, bordeis nas esquinas, quartos gemendo,
Canto de sereias, tatuagem nos braços, capitães
De Posídon, filhos do mundo, abandonaram-nos no mar,
Tanta saudade, nos dias renascemos,
Para bem morrer…
O rugir do mar, um leque de pranto,
Terra rasgada, lua serena,
Cantamos a desgraça, duma sombreada
Vida, aves queimando, tombam-se estelas, este céu sem fim,
Lágrimas e dor, dédalo sem êxito, labirinto oceânico!!!!! …
Oh esperança! Cantamos mornas...
Buda em mim, criando caminhos, biliões de lanternas,
São pirilampos, lótus da vida, flores do meu trilho,
Ascendo da ilha vou as estrelas,
A visão do cosmos, universo cantando,
Eu sou a candeia, do meu caminho.
Formam-se clarões, repicam-se sinos. Tocam-se
Tambores nos vales das ilhas, colar de pássaros
Flautas marítimas, pernas que brilham, de veludo é a derme,
Corpo mulato, incenso de mulher, fogueira eterna,
Seu cálice que aflui, sangue menstrual, fecunda bandeira
Mulher sagrada, terra e arado, meto a semente.
Flor de espiga, milheiral no vento,
Sorriso de pérola, mãos delicadas,
Coluna vertebral, pose de rainha,
Electricidade no ar, horóscopo e oráculos,
Destinos escritos, infinitamente juntos... possibilidades
Possíveis, finito, perene, despedidas e encontros,
A vida e a morte…
Historias do mundo, a imensidão
Do mar… aqui chegaram, um novo mundo criaram …
II
Nas suas naus arribaram,
Ilhas vulcânicas, em paleolítico repouso,
A primeira missa, repteis e pássaros,
Baptizaram-lhes com nomes, que não
Advém de Deus, mas sim dos homens,
Da sua memória…
A bíblia a espada, pólvora e grilhetas,
Ninharias e missangas, homens esbeltos,
Negros e negras, belos como a noite, nocturno azeviche,
Reténs e chicote, úlceras e ultrajes, negreiros
Malditos, homens marcados, ferro, e fogo,
O Novo Mundo nasceu, com el: Blues, el merengue, e
el uáuánko. Quatro por oito, kumba lele,
Xango, Ogum, yemanjá,
Novo lado do mar, algodão em rama,
Coton Clube negro, crioulo é o jazz, que foi nos libertando
Para renascermos….
Mas alguns, por aqui ficaram! …
Dermes brancas, dermes negras,
Melaço nos lábios, cor de mulato,
Peixe, feijão, milho e pilão,
Cavaquinho nos dedos, divinas mornas,
Um mar imenso, que nos rodeia,
Festa das águas, se Deus quiser, meu
Penedo de Tântalo, sede secular, fonte amputada
Língua murchada …
Morremos e ressuscitamos, nosso desespero…
Teimosamente, aqui ficamos! …
Daqui zarparam, naus e veleiros;
Braços de pedra, arpoadores de setáceos
Ondas gigantes, gentes remotas,
Filhos do fogo, dez ilhas secas…
Xango, Uatatanka,
Cristo, Schalom…
Sou negro, índio, lusitano, hebreu,
Marinheiro das ilhas, num norte-sul,
Cheiro a goiaba, delicioso carpo, orgasmo forte,
Filho colonial, carrego em mim, continentes e mundos,
Querer ficar e ter que partir…
Penélope acenando, com seu lenço de pedra,
Lágrimas secaram, dias rasgados, membros
Calcinados, exiladas almas, carta e mantenha,
Modas e moedas, epístolas de luto,
Luto e amor, matrimónio por fotos,
Procurações! …
Bodas em Lisboa, Boston e Paris,
Vistos de entrada,
Correio censurado,
Salazar voraz; Tarrafal farpado, frigideira queima,
Pulmões rasgados, ratazanas e rondas,
Camaradas delidos, carne de canhão,
Chumbo de indecência, irremediável loucura,
Circulo craniano, réptil milenar,
Nocturna demência, navalhas loucas
Baionetas frias, fresca é a carne,
Soldados na peleja, mortos e medalhas,
Matam e morrem, anos sem fim,
Há tempo para tudo, aqui neste Mundo…
III
Em vagas frescas nasceu meu mar, nela
Lavei meu corpo, nasceram mundos, pão nas
Estrelas, abanico de chamas, signos e flores,
Monte de rosas, sexo balsâmico, paixão de viver,
A hemoglobina quente, bíceps crescendo, luvas de
Agua, mãos de pétalas, campo de folhas
Bela é vida, forte o amor, pássaro que voa,
Oh mar que canta… Minha viagem! …
Lábios de tulipa ardem em meu corpo,
Película branca, neve do norte, rios gelados, torres néon,
Estrada do paraíso, relógios de agua, mulheres loiras,
Polidos vasos, porcelanas de Delft,
Crinas de milho, triângulo solar, meu sexo ébrio,
Embriagues de touro, planície verde,
Diques e riachos, humedecidas conchas,
Narciso mulato morna na viola, canta as suas mulheres, de
Blanca luna….
Roterdão, suas pontes, pernas bonitas,
Bicicletas girando, seios altivos, meu peito que rasga,
Nascem tulipas, aqui habito, vindo das ilhas,
Broca de frio, fura meus ossos,
Barcos a – vista, marinheiros sonhando,
Musica Soul, ninfas do porto,
Navegação exótica, vitrinas e sexo,
Gonorreias arcaicas, falos em delírio,
Desgraçada solidão, Ma petite mort…
Iv
Cargueiro na neblina, Oceano Pacifico,
Singapura, China, livro de Mao,
Altifalantes ríspidos, uniformes azuis,
Individualidades perdidas, falsas doutrinas,
Num corcel de sangue, galopa a peleja, Vietname
Queimado, América murchando, Marte de espada
Ceifa Saigão, heroína nas veias, filhos da noite,
Senhores das guerras, assassinos perversos,
Sorvem champanhe, em crânios de chumbo,
Contemplo as estrelas, oh miséria humana! …
Constelações de palmeiras, cruzeiro do sul,
Pescando pérolas, homens castanhos,
Gougin pintando, a luz da vida,
Na Austrália cantaram, doces sábios,
Aborígenes da terra, bumerangues voláteis
Separando estrelas, trilhos na noite, olhos felinos,
Canto nómada, seus djederutus,
Musicando com seixos
Seus corpos bailam, oiros cabelos, narinas
Largas… Vieram os Britânicos, raptaram seus filhos,
Violência e álcool, agonia de um povo,
Sidney , Cairns, Adelaide, Pert, soltei amarras
Segui o destino… Quinze dias e quinze noites, monte
Fuji… Beijei Bacho lendo Haykus…
Poesia breve, universo profundo,
Meu Zen budismo, a espiritualidade do ser,
Yokohama ocidental, comboios cometas,
Trilhos chiando, peixes gigantes, mito de sismos…
Juba de Einstein, Mc2… Openheimer devasta
Com seu litlle boy…
Foram duas as cidades, a bomba atómica,
Cadáveres em pó
Flautas de bambu, Schaguaschy que chora,
Quimonos de seda, gueixas no chá,
Amendoeira nevando, pétalas
Perfeitas, mariposas azuis,
Levante solar, fim da estrada,
Do Japão parti… termina aqui,
A segunda viagem…
V
De contratos com a vida seguimos vivendo,
Pela sabedoria dos homens, nos céus voei!…
Do Oriente para o Ocidente…
Lembrei-me de Isack Newton, da gravidade,
Macieira e maçã, que
Não é de Adão, tão-pouco de Eva,
Mito de Ícaro, sonho dos homens,
Inatingíveis mundos, liberdade ou queda,
Tokyo, Amsterdam, via Alasca,
Custou um milhão de dólares, conta a historia,
Ancorage na névoa, rio com salmões
Saltam para a morte, seu renascimento
Meu caminho na vida, linhas na mão,
Labirinto sem centro, a metafísica,
Penso no amor, existo, penso…
Lua soberana céu argentino, rosto de mulher
Pálpebras rasgadas, branco cristal,
Nocturnos olhos, pestanas de seda,
Quimono florido, vénias e luvas,
Mãos de nuvem,
Papel de arroz, caligrafia zen, diploma lácteo,
Pólo norte níveo, Robert Perry frio, infinito
Silencio, a evolução dos homens,
Maquinas voando, meu avião no ar,
Sigo viagem, caixa veloz,
Perfurando nuvens, hei de chegar…
VI
“ Mas Tudo regressa, ao ponto de partida!...”
Roterdão meu templo, rezo as divinas,
Bicicletas voam, meu falo sulca,
Regressei a Ítaca,
Rosto bronzeado, labareda ardendo,
I,am a sex machine; objecto sexual,
Europa minha mulher, minha concubina,
Sou bailarino leve, pétala no vento, furação coreográfico,
Bailo, James Brown…
It is a mans mans World… a divina tragédia
Visto de estadia, aborta aos três meses,
Barco ou fronteira, comboios de gado,
Salazar esqualo, capanga mor,
Tarrafal demente, queimando cérebros,
Misantropia perversa, esquadrões da morte,
Optei de novo, o caminho do mar…
VII
Orinoco serpenteia, água sem fim,
Aurífera areia, aves coloridas…
Lembro-me de Simão; …não o cireneu, do morto na cruz,
Mas de Bolívar, el Libertador, que
Em Santa Marta morreu, em febril sonho,
Gasta utopia, la vida e la muerte, Del General,
Todos os dias, morremos na cruz…
Avançando na selva, escuto xamanes
Tatuagens negras, bambus e flechas,
Pepitas douradas, voam nas lâmpadas,
Urros de fantasmas, los conquistadores,
Sangue derramado, índios vestidos,
Gládio e bíblia,
Verbo de Deus, homens centauros, a profecia,
A pólvora, a cruz, Bartolomeu de Las Casas…
Meu barco acelera, corto a corrente,
Minha água que turva, Amazona queimando,
Moedas e poder, arquitectura efémera,
Em porto Ordaz Venezuela, no Novo Mundo, cheguei …
Cicere é puta, Ulisses mareante,
Inverte-se o canto, Homero enxerga,
Cicere é índia, enfeitiçada por dólares,
Ulisses fornica… cama molhada, charco de esperma,
Curral de santas, azares da historia,
Coca-Cola bebem, elixir dos deuses,
Lágrimas sem sal, abraço sem flor, beijos sem água,
Doce ilusão, o dia chega,
Benzeno nos tanques, cheira
A veneno, passos perdidos, mar encrespado,
sigo viagem,
To the Américan dream,
Filadélfia á vista!!!!! … Apertem as atracas,
A nave chegou…
VIII
De amor fraterno advêm o nome, cidade antiga,
Dionísio seu deus, antes da Americana, foi a primeira,
O universo gira, nada é eterno, Filadélfia ontem,
Filadélfia hoje, o novo império, a sua historia,
A pequenez dos homens, grande é o tempo,
Metrópole fria, letreiros néon,
Dragões são carros, escarrando gás,
Vadias em delírio, querem chupar-me,
Roosevelt por 100 dólares, usa peruca,
Narinas largas, o crak despacha,
A Independence Hall, a constituição,
Sino da liberdade, Poe meu poeta; corvo agourento
Furando meus olhos, deprimente é a neve, minha tristeza,
Imenso lamento, Poe delirando:
Tudo acabou!!!!!... – Tudo acabou!!!!!!! Digam que Edy, já não existe…
Constituição e liberdade, negros linchados, strange fruits
Nas arvores, Trash nos Guetos, latinos na coca…
América! América! … Ginsberg poeta, Ginsberg gritando:
América, América!...quando hás de enviar, teus ovos a Índia????!!!!!…
Triste nas brumas, Filadélfia ficou,
Rumamos para o norte, velas esticadas, cristas na quilha,
Marinheiro na gávea alto é o céu;
Arranha-céus fálicos, carros e trombetas, azáfama de loucos
Crimes com arte, cidade de insónia, psiquiatras a quilo,
Cavalo louco, time hear is mony;!!!!
Estátua da liberdade, não liberta almas;
Manahata, por 24 dólares nova Amsterdam,
Meus irmãos Lenape rindo dos brancos,
Porque o Sol e a Terra, a nada pertencem,
Bastam 7 palmos quando a morte vier.
Wall street não para…
Cães raivosos, salivam gás,
Serra Leoa decepada, seus diamantes…
África fodida; Nwe York- Nwe York…
Hudson seu rio, neblina e agua,
Em Harlem e Bronx furam-se veias,
Hooper e as pinturas, que solidão!...
Peguy Gugenheim é bela, arte é poesia,
Quens rainha,
Miles Davis é azul, a kind of Blue;
Central Park verde, respira-se vida,
Nações desunidas, guerras sem fim.
Mata o forte, o fraco morre…
Esta nova babilónia, foi berço de Índios,
De traqueias queimadas, agua de fogo,
Negros no Soul, cantam seus hinos…
I,am a saylor, From Cape-verde islands…
Arquipélago seco, seco, mas kool,
Mais koll que Hollywood,
Tempo de partir, mas não vou para as ilhas,
Proibido regresso, o fascismo ceifa, com terror e morte…
Noites tenebrosas, grávida de punhais!…
IX
Nas vagas da vida, de novo avistei Europa,
Cansado do mar purguei o sal; pelas estradas caminhando,
em Helvécia cheguei.,
Desenhando pássaros e nuvens,
Amor, amizade, filhos, e arte,
Amor pela arte, arte da vida,
POESIA sublime, navegam os meus dias…
Regressei as ilhas, após 15 longas luas,
Escutei de novo o:
Cântico da Manhã Futura!…
Sou peregrino nos caminhos do mundo,
Queda e ascensão, a vida é assim,
Alegrias e tristezas, sigo a senda, como
Poeta cantando, novos mundos criando,
Divas do meu destino, ofereço-vos luz,
Meus 56 anos formosos, meu Monte Verde
Sagrado, neblina mística, suave frescura;
Narinas amplas, oxigénio no cérebro,
Horizonte de utopias, a imensidão do mar,
Em 15KM por 23… São Vicente flutua! …
Suspensa no ar, a ilha ondula,
Pensamentos jorrando, serenas jornadas;
Oh doce memória, sigo avante a vida é bela,
Amo-vos mulheres, musas divinas,
Candeia altiva, lua celeste,
Alvorada em parto, razão de viver…
Vou adiar a morte, para um outro dia…
Mundo sabe é o vazio. A especulação
Das estrelas, as palavras. Sempre as palavras,
A candeia e a bengala, o sustento do efémero,
Borboletas desfazendo em cinzas.
Sementeira nos campos. Algumas perdidas
Pela secura da alma, outras iluminadas pelo
Incêndio do peito, tal mulher casa da primavera.
Neste monte verde, uma grinalda de névoa entra
Pelas minhas narinas, penso nos meus mortos que
Frios jazem em catedrais olvidados e, no
Meu eu, a luz herdada dos seus candelabros
De cristalina sabedoria
Com meu cajado de plumas e um mar imenso
De pensamentos, a águia voa, meus pés descalços
Sentem a renda dos massa-pés, modelando trilhos
Na ilha
Lembro-me dos teus ombros que beijo e torno
A beijar cem vezes cem, ou equação infinita
Na tábua de ébano dos teus olhos. Borboletas,
Pássaros, flores, e meus dedos apontando uma
Lua coralina, que repousa entre os vales dos teus formosos
Seios.
O quarto, a mesa onde divido o pão e escrevo,
Invento palavras cortantes como a espada da
Morte, também o sabor a mel que corre nas linhas
Das minhas ideais. Colheitas armazenadas
Na electricidade do meu crânio iluminado, insectos
Coloridos com sangue, sobrevoando o lago das minhas
Incertezas.
A casa febril arde, papoilas vermelhas
Suspensas na seara, o invisível ar
Que respiro, a profundidade no oceano das palavras
Que sondo. Respirar de cavalo sem freio,
A tristeza, o amor e a morte, corrente marítima,
Veleiro navegando na borrasca,
Minha solidão sem beijos.
Romarias e suor, repicam-se tambores nas ilhas.
Santos por um dia pelas ruas caminham;
Dos seus sexos bátegas de chuva regando acácias
Com seus ramos feito navalhas
Apontadas para a lua.
O povo canta, a cortina da míngua
Num tocar de corpos desvanece no vermelho da terra,
E, ressuscitado por um segundo, Cristo com um panfleto
De luz, grita aos homens: Amais uns aos outros, irmãos.
Igrejas, mesquitas, sinagogas, templos iluminados,
Dogmas e mártires, artilheiros da fé, mentes
Flageladas pela cegueira do verbo
Meu corpo é meu templo, são
Beijos de libelinhas, pairando num regato de
Cantigas.
Violinos, liras, harpas, violoncelos na rua dos
Tímpanos repousam – os sentidos orquestram
A harmonia do dialogo, e, sentado na raiz milenária de um
Dragoeiro, oiço o cristal da música embalando
Meu peito grande. Cintilam-se estrelas de
Branco veludo, neste universo sem fim.
Violáceo poente, jardim em luz
Meus olhos quentes,
Leve varanda, minhas pálpebras, minhas
Pestanas, pintando oceanos, cor e luz,
Sombra e brilho…
Sem LUZ?!... Nem espaço nem tempo! …
Passa um moscardo, regresso a minha infância bem longe! …
Foram tantas, mas algumas, pelo caminho as perdi.
Fotografias armazenadas, no cadinho
Da lembrança…
Singapura!... Trinta dinheiros,
Três maços de Chesterfield, coito triste,
Órfão no mundo e, mais mar a fora,
A ilha dos meus sonhos,
Paraíso perdido que a vida deseja.
Rosa-dos-ventos, barco do corpo
Horizonte de tigres, homens – a – vista! …
Será este o meu porto seguro?...
Terei de te encontrar
Oh musa perdida!... Tu que comigo
Ao agro irás, escutar a fresca erva crescer…
Planície verde, ausência de espelhos, abominável
Objecto de vaidades múltiplas,
Imagem negra, pós Outono da vida…
Rugas no coração, homens na plástica,
Olhos rasgados orbitam sem brilho, e
A morte que nunca avisa, quando vem jantar…
Bandeiras, estandartes, suásticas, soldados,
Guerreiros, marchando, gritam aos tiranos:
Ave César!... morttituris ti salutem)…
Bestas teleguiadas colocando ovos no útero do Mundo,
Selvas ardendo, mães sem sorriso,
Águias apunhaladas no voo dos poetas!!!!! …
Mas os poetas, feito pássaros, que renascem das cinzas,
Inventam palavras, iluminam-se livros,
Estes templos sagrados
De divina sabedoria.
Mãos em chamas, aurora de fogo, nascem as palavras,
Longo dia, eterna noite… Ele, sussurrando, pergunta-lhe:
São verdes, os teus olhos, ou são azuis, como a fina
Linha do mar, que vem dar à costa dos meus sonhos?
Oh salamandra dourada, fogueira viva,
Estrada escarlate…. Minhas artérias são rios de sangue,
Palavras em meus lábios, cotovelos dobrados, rezo a beleza,
Fénix renasce, musica celestial, partitura divina,
Divino Beethoven… ( Freude Godes funkel
aus Ellisium) movimento de batuta solar, musica infinita…
E eis que escrevo este poema aos meus amigos vivos e mortos.
Mortos nas suas frias lápidas…
Carrego-os
No cadinho da vida! …
A vela cintila, uma brisa fugaz
Entra e sai pela janela das persianas verdes…
A cor dos teus olhos não é? …Ou! … Serão azuis?...
Negros?... castanhos?...
Amo-te com todas as cores
Mulher vindima, uva que
Etiliza meu veleiro de mastro firme. Sou capitão,
Marinheiro de velas solta nas vagas do teu pão
Que como e ofereço-te a comer… Leite, manga,
Nuvens, crianças, a lua, a imensidão do peito, ajoelhado
Beijo os teus lábios em flor…
Semente da terra, origem da vida, convexa prenhez,
Planta que nasce, festejamos a vida, com cavaquinhos
E violões, a navalha que corta o fio entre a mãe
E a cria, primavera em brilho, sorrisos marfim,
Catedrais de ébano, lábios vermelhos, belos os seus
Rostos, rendas de Holanda, mesas coloridas, iguarias
Crioulas, manjares e bailes, papilas gustativas,
Céu da tua boca, malagueta e melaço, cana-de-açúcar,
E o grogue, que embriaga nossas alegrias,
Também as nossas tristezas…
Pernas pintadas, pó de terreiros saracoteando,
Juventude firme, corpos de basalto, seus sexos cheirosos,
Coxas ritmadas em transe bailando,
Astros que queimam o circulo das saias, carcelas em fogo
Suspiros na noite,
Lua bem clara, cama de amantes,
Tamarindo gemendo, flores no quintal,
Coito efémero nada é eterno, transita o tempo,
La nave vá…
Ofídia fria, Inverno sem luz,
Os dias as noites, manto de espinhos,
Sem agua no poço o corpo morre,
Pálpebras exaustas, guerra dos homens,
O frio mármore, almas cortadas,
Sangue inocente, borram-se estradas, lábios sem rega,
Sede de viver…
Moedas que corrompem, de fel a sua seiva,
Vida quebrada, peçonha no cálice, vinho corrompido,
Falsas abençoas, traqueias que rasgam, afónica é a
Lira, velas e velórios, estrelas extintas,
Caule quebrado, dedos partidos, canetas ardendo
Escritas sangrando, suicídio e revólveres
Sonho e utopias, … a LUZ é vida, o dia renasce…
Montanha curva, ventre de
Mulher, parto feliz, vida brotando,
Rio correndo, voam-se os dias,
Nas veias o sangue, meu corpo nu,
Canções divinas, atiçam-se lareiras, meu cérebro
Descansa, contemplo o mar…
Desço a corrente num barco de seda,
Meus gestos, tuas mamas, teu cabelo azeviche,
Floresta de crinas, teus olhos que brilham,
Jardim dos sentidos, sinos que tocam,
Torre ardendo, meu falo duro, tua concha em flor
Teu desejo molhado, minha língua quente,
Navega tua púbis, jardim de jasmim, mariposas e pétalas,
Teu profundo suspiro, entoando musica….
Trompetes e tambores, violas de amor, polifonia
Alegre, montes castanhos, braços e dedos,
Palma das mãos, rezam-se terços, Cristo bailando,
Crianças no baile, pura inocência, coroa sem espinhos,
Ilhas vulcânicas, negro basalto, oh rosas do mar!…
Maria, Joana, Bia, Teresa, rebolam-se suas coxas num
Abrasado suor, frenesi musical, cursos de
Água, rostos de negros, índios e brancos, nascimento das
Ilhas, ancoradouros e portos, casa de marinheiros,
Desflora dores de virgens, o sal o azeite, a cruz e
Os santos, bordeis nas esquinas, quartos gemendo,
Canto de sereias, tatuagem nos braços, capitães
De Posídon, filhos do mundo, abandonaram-nos no mar,
Tanta saudade, nos dias renascemos,
Para bem morrer…
O rugir do mar, um leque de pranto,
Terra rasgada, lua serena,
Cantamos a desgraça, duma sombreada
Vida, aves queimando, tombam-se estelas, este céu sem fim,
Lágrimas e dor, dédalo sem êxito, labirinto oceânico!!!!! …
Oh esperança! Cantamos mornas...
Buda em mim, criando caminhos, biliões de lanternas,
São pirilampos, lótus da vida, flores do meu trilho,
Ascendo da ilha vou as estrelas,
A visão do cosmos, universo cantando,
Eu sou a candeia, do meu caminho.
Formam-se clarões, repicam-se sinos. Tocam-se
Tambores nos vales das ilhas, colar de pássaros
Flautas marítimas, pernas que brilham, de veludo é a derme,
Corpo mulato, incenso de mulher, fogueira eterna,
Seu cálice que aflui, sangue menstrual, fecunda bandeira
Mulher sagrada, terra e arado, meto a semente.
Flor de espiga, milheiral no vento,
Sorriso de pérola, mãos delicadas,
Coluna vertebral, pose de rainha,
Electricidade no ar, horóscopo e oráculos,
Destinos escritos, infinitamente juntos... possibilidades
Possíveis, finito, perene, despedidas e encontros,
A vida e a morte…
Historias do mundo, a imensidão
Do mar… aqui chegaram, um novo mundo criaram …
II
Nas suas naus arribaram,
Ilhas vulcânicas, em paleolítico repouso,
A primeira missa, repteis e pássaros,
Baptizaram-lhes com nomes, que não
Advém de Deus, mas sim dos homens,
Da sua memória…
A bíblia a espada, pólvora e grilhetas,
Ninharias e missangas, homens esbeltos,
Negros e negras, belos como a noite, nocturno azeviche,
Reténs e chicote, úlceras e ultrajes, negreiros
Malditos, homens marcados, ferro, e fogo,
O Novo Mundo nasceu, com el: Blues, el merengue, e
el uáuánko. Quatro por oito, kumba lele,
Xango, Ogum, yemanjá,
Novo lado do mar, algodão em rama,
Coton Clube negro, crioulo é o jazz, que foi nos libertando
Para renascermos….
Mas alguns, por aqui ficaram! …
Dermes brancas, dermes negras,
Melaço nos lábios, cor de mulato,
Peixe, feijão, milho e pilão,
Cavaquinho nos dedos, divinas mornas,
Um mar imenso, que nos rodeia,
Festa das águas, se Deus quiser, meu
Penedo de Tântalo, sede secular, fonte amputada
Língua murchada …
Morremos e ressuscitamos, nosso desespero…
Teimosamente, aqui ficamos! …
Daqui zarparam, naus e veleiros;
Braços de pedra, arpoadores de setáceos
Ondas gigantes, gentes remotas,
Filhos do fogo, dez ilhas secas…
Xango, Uatatanka,
Cristo, Schalom…
Sou negro, índio, lusitano, hebreu,
Marinheiro das ilhas, num norte-sul,
Cheiro a goiaba, delicioso carpo, orgasmo forte,
Filho colonial, carrego em mim, continentes e mundos,
Querer ficar e ter que partir…
Penélope acenando, com seu lenço de pedra,
Lágrimas secaram, dias rasgados, membros
Calcinados, exiladas almas, carta e mantenha,
Modas e moedas, epístolas de luto,
Luto e amor, matrimónio por fotos,
Procurações! …
Bodas em Lisboa, Boston e Paris,
Vistos de entrada,
Correio censurado,
Salazar voraz; Tarrafal farpado, frigideira queima,
Pulmões rasgados, ratazanas e rondas,
Camaradas delidos, carne de canhão,
Chumbo de indecência, irremediável loucura,
Circulo craniano, réptil milenar,
Nocturna demência, navalhas loucas
Baionetas frias, fresca é a carne,
Soldados na peleja, mortos e medalhas,
Matam e morrem, anos sem fim,
Há tempo para tudo, aqui neste Mundo…
III
Em vagas frescas nasceu meu mar, nela
Lavei meu corpo, nasceram mundos, pão nas
Estrelas, abanico de chamas, signos e flores,
Monte de rosas, sexo balsâmico, paixão de viver,
A hemoglobina quente, bíceps crescendo, luvas de
Agua, mãos de pétalas, campo de folhas
Bela é vida, forte o amor, pássaro que voa,
Oh mar que canta… Minha viagem! …
Lábios de tulipa ardem em meu corpo,
Película branca, neve do norte, rios gelados, torres néon,
Estrada do paraíso, relógios de agua, mulheres loiras,
Polidos vasos, porcelanas de Delft,
Crinas de milho, triângulo solar, meu sexo ébrio,
Embriagues de touro, planície verde,
Diques e riachos, humedecidas conchas,
Narciso mulato morna na viola, canta as suas mulheres, de
Blanca luna….
Roterdão, suas pontes, pernas bonitas,
Bicicletas girando, seios altivos, meu peito que rasga,
Nascem tulipas, aqui habito, vindo das ilhas,
Broca de frio, fura meus ossos,
Barcos a – vista, marinheiros sonhando,
Musica Soul, ninfas do porto,
Navegação exótica, vitrinas e sexo,
Gonorreias arcaicas, falos em delírio,
Desgraçada solidão, Ma petite mort…
Iv
Cargueiro na neblina, Oceano Pacifico,
Singapura, China, livro de Mao,
Altifalantes ríspidos, uniformes azuis,
Individualidades perdidas, falsas doutrinas,
Num corcel de sangue, galopa a peleja, Vietname
Queimado, América murchando, Marte de espada
Ceifa Saigão, heroína nas veias, filhos da noite,
Senhores das guerras, assassinos perversos,
Sorvem champanhe, em crânios de chumbo,
Contemplo as estrelas, oh miséria humana! …
Constelações de palmeiras, cruzeiro do sul,
Pescando pérolas, homens castanhos,
Gougin pintando, a luz da vida,
Na Austrália cantaram, doces sábios,
Aborígenes da terra, bumerangues voláteis
Separando estrelas, trilhos na noite, olhos felinos,
Canto nómada, seus djederutus,
Musicando com seixos
Seus corpos bailam, oiros cabelos, narinas
Largas… Vieram os Britânicos, raptaram seus filhos,
Violência e álcool, agonia de um povo,
Sidney , Cairns, Adelaide, Pert, soltei amarras
Segui o destino… Quinze dias e quinze noites, monte
Fuji… Beijei Bacho lendo Haykus…
Poesia breve, universo profundo,
Meu Zen budismo, a espiritualidade do ser,
Yokohama ocidental, comboios cometas,
Trilhos chiando, peixes gigantes, mito de sismos…
Juba de Einstein, Mc2… Openheimer devasta
Com seu litlle boy…
Foram duas as cidades, a bomba atómica,
Cadáveres em pó
Flautas de bambu, Schaguaschy que chora,
Quimonos de seda, gueixas no chá,
Amendoeira nevando, pétalas
Perfeitas, mariposas azuis,
Levante solar, fim da estrada,
Do Japão parti… termina aqui,
A segunda viagem…
V
De contratos com a vida seguimos vivendo,
Pela sabedoria dos homens, nos céus voei!…
Do Oriente para o Ocidente…
Lembrei-me de Isack Newton, da gravidade,
Macieira e maçã, que
Não é de Adão, tão-pouco de Eva,
Mito de Ícaro, sonho dos homens,
Inatingíveis mundos, liberdade ou queda,
Tokyo, Amsterdam, via Alasca,
Custou um milhão de dólares, conta a historia,
Ancorage na névoa, rio com salmões
Saltam para a morte, seu renascimento
Meu caminho na vida, linhas na mão,
Labirinto sem centro, a metafísica,
Penso no amor, existo, penso…
Lua soberana céu argentino, rosto de mulher
Pálpebras rasgadas, branco cristal,
Nocturnos olhos, pestanas de seda,
Quimono florido, vénias e luvas,
Mãos de nuvem,
Papel de arroz, caligrafia zen, diploma lácteo,
Pólo norte níveo, Robert Perry frio, infinito
Silencio, a evolução dos homens,
Maquinas voando, meu avião no ar,
Sigo viagem, caixa veloz,
Perfurando nuvens, hei de chegar…
VI
“ Mas Tudo regressa, ao ponto de partida!...”
Roterdão meu templo, rezo as divinas,
Bicicletas voam, meu falo sulca,
Regressei a Ítaca,
Rosto bronzeado, labareda ardendo,
I,am a sex machine; objecto sexual,
Europa minha mulher, minha concubina,
Sou bailarino leve, pétala no vento, furação coreográfico,
Bailo, James Brown…
It is a mans mans World… a divina tragédia
Visto de estadia, aborta aos três meses,
Barco ou fronteira, comboios de gado,
Salazar esqualo, capanga mor,
Tarrafal demente, queimando cérebros,
Misantropia perversa, esquadrões da morte,
Optei de novo, o caminho do mar…
VII
Orinoco serpenteia, água sem fim,
Aurífera areia, aves coloridas…
Lembro-me de Simão; …não o cireneu, do morto na cruz,
Mas de Bolívar, el Libertador, que
Em Santa Marta morreu, em febril sonho,
Gasta utopia, la vida e la muerte, Del General,
Todos os dias, morremos na cruz…
Avançando na selva, escuto xamanes
Tatuagens negras, bambus e flechas,
Pepitas douradas, voam nas lâmpadas,
Urros de fantasmas, los conquistadores,
Sangue derramado, índios vestidos,
Gládio e bíblia,
Verbo de Deus, homens centauros, a profecia,
A pólvora, a cruz, Bartolomeu de Las Casas…
Meu barco acelera, corto a corrente,
Minha água que turva, Amazona queimando,
Moedas e poder, arquitectura efémera,
Em porto Ordaz Venezuela, no Novo Mundo, cheguei …
Cicere é puta, Ulisses mareante,
Inverte-se o canto, Homero enxerga,
Cicere é índia, enfeitiçada por dólares,
Ulisses fornica… cama molhada, charco de esperma,
Curral de santas, azares da historia,
Coca-Cola bebem, elixir dos deuses,
Lágrimas sem sal, abraço sem flor, beijos sem água,
Doce ilusão, o dia chega,
Benzeno nos tanques, cheira
A veneno, passos perdidos, mar encrespado,
sigo viagem,
To the Américan dream,
Filadélfia á vista!!!!! … Apertem as atracas,
A nave chegou…
VIII
De amor fraterno advêm o nome, cidade antiga,
Dionísio seu deus, antes da Americana, foi a primeira,
O universo gira, nada é eterno, Filadélfia ontem,
Filadélfia hoje, o novo império, a sua historia,
A pequenez dos homens, grande é o tempo,
Metrópole fria, letreiros néon,
Dragões são carros, escarrando gás,
Vadias em delírio, querem chupar-me,
Roosevelt por 100 dólares, usa peruca,
Narinas largas, o crak despacha,
A Independence Hall, a constituição,
Sino da liberdade, Poe meu poeta; corvo agourento
Furando meus olhos, deprimente é a neve, minha tristeza,
Imenso lamento, Poe delirando:
Tudo acabou!!!!!... – Tudo acabou!!!!!!! Digam que Edy, já não existe…
Constituição e liberdade, negros linchados, strange fruits
Nas arvores, Trash nos Guetos, latinos na coca…
América! América! … Ginsberg poeta, Ginsberg gritando:
América, América!...quando hás de enviar, teus ovos a Índia????!!!!!…
Triste nas brumas, Filadélfia ficou,
Rumamos para o norte, velas esticadas, cristas na quilha,
Marinheiro na gávea alto é o céu;
Arranha-céus fálicos, carros e trombetas, azáfama de loucos
Crimes com arte, cidade de insónia, psiquiatras a quilo,
Cavalo louco, time hear is mony;!!!!
Estátua da liberdade, não liberta almas;
Manahata, por 24 dólares nova Amsterdam,
Meus irmãos Lenape rindo dos brancos,
Porque o Sol e a Terra, a nada pertencem,
Bastam 7 palmos quando a morte vier.
Wall street não para…
Cães raivosos, salivam gás,
Serra Leoa decepada, seus diamantes…
África fodida; Nwe York- Nwe York…
Hudson seu rio, neblina e agua,
Em Harlem e Bronx furam-se veias,
Hooper e as pinturas, que solidão!...
Peguy Gugenheim é bela, arte é poesia,
Quens rainha,
Miles Davis é azul, a kind of Blue;
Central Park verde, respira-se vida,
Nações desunidas, guerras sem fim.
Mata o forte, o fraco morre…
Esta nova babilónia, foi berço de Índios,
De traqueias queimadas, agua de fogo,
Negros no Soul, cantam seus hinos…
I,am a saylor, From Cape-verde islands…
Arquipélago seco, seco, mas kool,
Mais koll que Hollywood,
Tempo de partir, mas não vou para as ilhas,
Proibido regresso, o fascismo ceifa, com terror e morte…
Noites tenebrosas, grávida de punhais!…
IX
Nas vagas da vida, de novo avistei Europa,
Cansado do mar purguei o sal; pelas estradas caminhando,
em Helvécia cheguei.,
Desenhando pássaros e nuvens,
Amor, amizade, filhos, e arte,
Amor pela arte, arte da vida,
POESIA sublime, navegam os meus dias…
Regressei as ilhas, após 15 longas luas,
Escutei de novo o:
Cântico da Manhã Futura!…
Sou peregrino nos caminhos do mundo,
Queda e ascensão, a vida é assim,
Alegrias e tristezas, sigo a senda, como
Poeta cantando, novos mundos criando,
Divas do meu destino, ofereço-vos luz,
Meus 56 anos formosos, meu Monte Verde
Sagrado, neblina mística, suave frescura;
Narinas amplas, oxigénio no cérebro,
Horizonte de utopias, a imensidão do mar,
Em 15KM por 23… São Vicente flutua! …
Suspensa no ar, a ilha ondula,
Pensamentos jorrando, serenas jornadas;
Oh doce memória, sigo avante a vida é bela,
Amo-vos mulheres, musas divinas,
Candeia altiva, lua celeste,
Alvorada em parto, razão de viver…
Vou adiar a morte, para um outro dia…
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