10 de jun. de 2009

PARABENS J. LUIZ TAVARES

RETRATO DO POETA AOS QUARENTA E DOIS
Quarenta e mais dois são os contadosanos, de parcos milagres, nulas maravilhas, créditos de quantos dias hipotecasteao fingido desvelo dessa mão afoita. Partias. E eram já estendal de arroteado póas várzeas de vário verde, lêveda lembrançade quando vós, senhora de navegáveis curvaturas,vos arregaçáveis, estendida sobre um dealbadochão de sargaços, para a impante glóriadesse atamancado coraçãorendido à ressaca que o rilha p’la calada. Quarenta e mais dois, não de enganos tantos,mas da certeza que estar vivo é soluço que descamba em ruivos dessangrados versos, suados colhões belicosos, inda tão lembrados dos desvelos, amorios — ó mistério de leveza — que lhes davam mãos perduláriasà mesa posta da penúria. Quarenta e mais dois, e eis-te desconformeao ar do tempo, cão que ainda se eriçaao tartamudo rilhar do vento à flor das gáveas,ao arfar recidivo e rombo,à sílica golfando nos costados lacerados. Céus de lua nova, dai-lhe um firme ombropara os súbitos rasgões da saudade,arte para quanta ginga a vida requeira— embora a bigorna dos meses crepitesilenciosa nos alveólos, aos quarenta e mais dois, dores, tirando certos avulsos cagaços,apenas as poeticamente repartidas por algunscelebrados livros que lhe não fizeram maisrefinado em meio a tanta cabronada. Quarenta e mais dois, quase novo, quase velhoo rosto que sombriamente o espelho lhe devolve,mas ainda não menos impoluto que o infante ranhoso dos valados, por isso, ó vós castrados para a vida,vós que tendes por expertise a salivantearte do broche, tomai lá disto em forma de pume remoei-lo, ó vorazes milhafres do zunzum,tal cautério para a vossa angústia de capados.
JOSÉ LUIZ TAVARES



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