8 de abr. de 2009

"LISBON BLUES" DE JOSÉ LUIS TAVARES

DA ESTRELA À GRAÇA NO ELÉTRICO 28


Pelo findar do inverno ia eu nesse elétrico,
por entre o marulho dos freios suaves turistas,
peregrino pedalando o diurno rosto da cidade,
não vi molero nem ofelinha — só o mulherio
esvoaçante da estrela ao bairro alto,
passos e ruas tão para sempre perdidos
ao vagar de março lustrando os poiais.

Depois, seguia ronceiro, modelo de dolência,
por essa graça súbita e distante,
por estreitas ruas que guardam o azul
temporão das manhãs de junho e o grave
semblante de quem, face ao rio, se despede
da breve primavera dos trabalhos.

Nuvens, telhados, quisera a vista estar
tão próxima desta intacta geometria, deste
tão consentido murmúrio sobre as graves
cabeças dos homens, projeto de aliança
que o vento estende sobre a secreta morada
dos mortos.

Desliza pelos dias noites de inverno,
feito nau de um distante passado,
navio do nosso futuro.
Vai sonâmbulo e vai subindo, da estrela
ao bairro alto, por entre choupos castelos
moiramas; vai de amarelo e ferrugem,
inquebrada seta pelo dealbar do dia,
caminho da graça, derradeira morada.


“Lisbon Blues” de José Luiz Tavares indicado para o Prémio Portugal Telecom 2009



2009-04-07 00:13:22
Praia, 07 Abr. (Inforpress) - O livro “Lisbon Blues”, do escritor cabo-verdiano José Luíz Tavares, encontra-se entre as várias obras indicadas para a sétima edição do Prémio Portugal Telecom, para livros em língua portuguesa publicados no Brasil no ano de 2008.
Conforme apurou a Inforpress, José Luíz Tavares é um dos três autores africanos de língua portuguesa a participar no prémio, ao lado dos consagrados Pepetela, de Angola, e Mia Couto, de Moçambique.
O galardão, que tem uma dotação para o primeiro lugar de 100 mil reais (cerca de três mil e 700 contos), 35 mil reais (mil e 300 contos) para o segundo, e 15 mil reais (558 contos) para o terceiro, é disputado em três etapas, sendo a decisão final revelada em Novembro deste ano.
O livro, editado em Novembro passado, e lançado durante a 8ª Bienal Internacional do Ceará, integra a colecção Ponte Velha da editora brasileira Escrituras. O mesmo está escrito segundo as novas normas da ortografia da língua portuguesa, sendo José Luiz Tavares o único autor não português a integrar a referida colecção.
Em conversa com a Inforpress, o escritor adiantou que pretende apresentar o livro na Praia, cidade geminada com Lisboa, no próximo mês de Maio.
Recorde-se que José Luíz Tavares foi galardoado o ano passado no Brasil com o prémio “Literatura para Todos”, do Ministério da Educação, pelo inédito “Os secretos acrobatas”, que será editado em Julho, numa tiragem de cerca de 600 mil exemplares, destinada ao programa “Brasil alfabetizado”.
Em termos dos seus planos de edição para este ano, o poeta adiantou à Inforpress que vai sair uma nova edição, a terceira (desta vez bilingue, português/cabo-verdiano), de “Paraíso apagado por um trovão”, que se encontra esgotado há já algum tempo.
Conforme indicou ainda, está a trabalhar na organização duma antologia bilingue “Partes do arco-íris: 10 poetas vivos de Cabo verde”, que deverá ser lançado em finais de Novembro, durante o congresso académico LUPOR IV, a realizar-se na cidade do Mindelo.
Outro dos projectos em carteira, e referidos pelo poeta, é o livro “Cidade do mais antigo nome”, um álbum sobre a Cidade Velha, com textos seus e fotografias do português Duarte Belo.
Referindo-se a esse projecto, José Luíz Tavares, acrescentou ainda, que o mesmo se encontra numa prestigiada editora portuguesa à espera de apoios ou patrocínios para a sua edição, “dado que um álbum daquela natureza tem um custo elevado”.
A esse propósito, José Luíz Tavares confessou “algum desalento”, dado que tem “batido a todas as portas de entidades públicas e privadas, sem conseguir quaisquer resultados positivos.
Conforme referiu, o que lhe faz estranhar entretanto, por um lado, é o facto de se tratar de um tema da actualidade, Cidade Velha, que aguarda neste momento a decisão da UNESCO acerca do dossier de candidatura a património histórico da humanidade, de resto, local escolhido para palco central das comemorações do trigésimo quinto aniversário da independência nacional, a celebrar no próximo ano.
Por outro lado, referiu, fica também mais confuso ainda, pelo facto da obra de José Luiz Tavares ser das mais relevantes do panorama literário do arquipélago, tendo granjeado inúmeros e prestigiados prémios no estrangeiro, tais como o Prémio Cesário Verde, o prémio Mário António da Gulbenkian, o prémio Literatura para todos do Ministério da Educação do Brasil, o prémio Jorge Barbosa da AEC e Finalista do Prémio ibero-americano Correntes d’escritas/Casino da Póvoa, o que fazem dele o escritor mais premiado de Cabo Verde.


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