26 de set. de 2010

SOLITÁRIO BLUES


Solitário blues

Ali estava; encalhada na cama tosca, cama mais parecida a uma nau de madeira podre comida por carunchos gigantes. O corpanzil enorme da mulher feito um setáceo naufragado naquele leito, pôs-lhe a pensar: Má sorte a minha? Fora conduzido até aquela espelunca, completamente bêbado, hipnotizado pelas interferências no seu cérebro de ébrio, pelo sonar daquele submarino nuclear feito rameira…
Olhando para o volume enorme dormindo, fuma um cigarro e, numa mistura de ódio e compaixão, pensa maldosamente, que a força de gravidade daquela massa, pode eventualmente, desviar satélites da sua orbita, no espaço sideral. Apagando o cigarro no tapete azul sujo e carcomido que cheira a mofo, esmaga o gafanhoto com seus sapatos com solas de borracha gastas, pensa que tudo não passa de um pesadelo, um domingo daqueles que todo o mundo vai ao campo e as praias comer, empanturrar a pança de bugigangas… e, as belas crianças maldosas, entre elas brincando, fazendo maldades umas as outras, todo o mundo rindo quando uma leva uma pedrada e desata aos berros e… Como dizia o poeta, “o choro de uma criança é belo, nos primeiros 50 segundos, depois, apetece é dar-lhes umas fortes palmadas”… Mas, não vinha a caso naquele instante, os bimbos… Quero que se fodam!... Pensou, olhando a paquiderme ressonando como se fosse as trompetas de Jericó com surdina e não podia derrubar os muros do prostíbulo, construídos com betão armado, feito de papelão, inventado por construtores aldrabões… A grande e maravilhosa invenção, depois do sabonete, e da fita gomada…
Abrindo as cornetas das narinas do seu nariz de boxeur, sentiu um cheiro a rato morto vindo de algures, pensou nas afinidades ente o bichano e a rata, mas desistiu de seguida… Pudera! Uma rata, só pode levar um homem a glória transcendental e, um fio dental atravessando a bunda de uma bela mulher, flor de orquídeas vindas da China, talvez da Tailândia, país onde a natureza, lembrou pregar uma horrível peripécia, sem perguntar a Deus, e matou com um tsunami milhares de pessoas, no dia… ou, terá sido na véspera do dia em que nasce, todos os doze meses, no calendário gregoriano já faz 2000 mil anos, um menino numa manjedoura, uma fábula para fazer feliz aos mercadores do templo com seus mágicos truques para amealhar o tutu dos parvalhões, na sua desenfreada mania consumista plutocrata… Caramba! Pensou pensando de forma desenfreada, como se um trem de pensamentos na sua cabeça fosse o Oriente Expresso…
Olha para cama com uns lençóis sujos feito velas pandas, nau corrompida, ele com ganas de apanhar a pistola de água no bolso interior da sua gabardine, acorda-la com jactos de água, como fazem os meninos traquinas… Não!...
Movendo silenciosamente, acende mais um cigarro, tira uns quantas passas, poisa o gafanhoto no cinzeiro, veste as suas roupas, atira umas quantas notas de dez Euros que saca do bolso das calças no travesseiro onde encostada está, a enorme cabeça, da volumosa mulher que ressona fortemente...
Sai do bordel agarrado a sua fiel companheira, uma garrafa de Vodka debaixo de metade, que retirou do bolso da sua velha gabardine… Na rua, pisa o asfalto molhado pela chuva que cai, mais triste ainda, do que a solidão do bordel…
Algures no fundo da rua escura, a trompeta de Miles Davis toca Trane,s Blues, aperta a garrafa nos seus lábios grossos de africano, esvazia o seu conteúdo de um só trago, sacode a cabeça, uma lâmpada néon pisca na parede de um bar, ele lê Solitário Blues Bar, pensa na sua ilha bem longe, no meio do imenso oceano.

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